A minha relação com a moda começou no silêncio da casa, entre linhas e agulhas. Enquanto minha mãe e minha avó costuravam, eu observava. Não podia aprender diretamente, mas absorvia tudo com os olhos — e o que não me ensinaram com palavras, eu aprendi com o coração.

Antes de pensar em ter uma marca, eu vivi a moda de um jeito muito real: dentro de um ateliê familiar. Atendíamos noivas, formandas, madrinhas. Era ali que eu via o poder transformador da roupa, o olhar da cliente ao se ver pronta, o cuidado em cada prova, a tensão e o brilho do grande dia.

Depois disso, entrei numa loja de departamentos e fiquei cinco anos como estilista da seção de tecidos.
Foram anos exaustivos: eu criava dezenas de croquis por dia. Mas também foram fundamentais. Ali eu tive meus primeiros contatos com a infinidade de texturas, composições e possibilidades que os tecidos oferecem. Sem saber, eu estava construindo a base técnica que sustentaria toda a minha visão estética no futuro.

 

 

Em 2012, me mudei pra Fortaleza com o sonho de fazer moda de verdade.
Meu primeiro emprego na cidade não foi na área: fui vendedor de móveis por oito meses. Mas não desisti. Até que, com uma força linda do meu professor Ícaro, que acreditava no meu talento, consegui um trabalho como assistente de estilo numa fábrica de jeans. Foi incrível. O jeans, até hoje, é um dos tecidos que mais me empolgam. Ele é bruto, versátil e democrático. Assim como eu.

Em 2013, fui selecionado para o concurso do SindiTêxtil. Não cheguei lá sozinho. Tive a ajuda de colegas da faculdade, como o Ajner, que criava texturas incríveis, e a Cleide Girão, que é uma modelista espetacular.
Em 2014, contei com eles de novo pra encarar dois desafios: mais uma edição do SindiTêxtil e o Concurso dos Novos.

Mas logo veio o momento de me jogar sozinho.
Eles seguiram seus caminhos, e eu entendi que se eu queria viver da minha arte, precisava ser valente. Foi quando comecei a fazer tudo do zero: pensar a marca, desenhar o conceito, estudar modelagem masculina, e me preparar pra sair do apoio e me colocar no centro.

Nascia ali, ainda sem nome de batismo, a marca Bruno Olly.
Não foi fácil. Mas eu já sabia que nunca seria.
E também sabia que, pra fazer moda no Ceará, eu teria que gritar mais alto que o resto do país, com costura firme, estética afiada e muita verdade no que visto.

Hoje, ao olhar pra trás, vejo que cada obstáculo foi também uma costura no meu processo. E que a marca que começou ali, pequena, é hoje símbolo de representatividade, arte e resistência.
Mas a história não acaba aqui, esse é só o começo.

 

Parte 2 vem aí, porque o tempo ainda tem muita coisa pra me costurar.